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Nossa relação com o religioso é antes de tudo a palavra. É antes de tudo ouvir uma voz que vem de outro lugar, é acreditar no invisível. Nossos templos dizem e mostram, onde muitas vezes nada chama a atenção, mesmo que isso signifique banalizar o espaço sem medo da feiura. 

Mas a fé recebida como palavra é experimentada como um olhar, um olhar alargado pelo amor, distorcido pela esperança, iluminado pela graça. Esse olhar abre brechas no possível, derruba os muros da evidência, do realismo, da racionalidade. Ele vê o mundo em movimento, os homens em formação. 

A nossa felicidade, a nossa infelicidade, o nosso medo ou a nossa esperança dependem do olhar, tanto nosso como dos outros. A fé é um olhar que vai longe, que vem de longe e que vê largo.

Um olhar que vai longe

São os olhos dos outros que nos fazem viver. Se eles nos ignorarem ou nos congelarem, estaremos mortos. Se julgam, se dividem em categorias, funções, papéis, filiações sociais, religiosas, étnicas, políticas ou outras, matam a vida. Aqui somos rotulados, definidos. Mas o olhar de Deus sobre nós é infinito. 

Esmaga tudo o que classifica e fecha. Ele vê humanos marchando em direção a algo que talvez eles não saibam, o que eles aspiram sem realmente saber. Por trás das aparências fechadas, esse olhar vê o homem inacabado, tornando-se como uma criança. Ele percebe, por trás das mais duras fachadas, rachaduras e feridas, uma expectativa secreta, um chamado para o que ainda está por nascer. 

Esse olhar vê o mundo em movimento, humanos a caminho de outro lugar. É esse olhar de Deus que a fé abre, um olhar energizante, criador de um futuro onde tudo ainda é possível. É a este olhar que devemos tentar aderir e viver. 

Mas esse olhar que vai longe já se encontra na beleza, na maravilha, na profundidade de sentido das pequenas coisas quando você as olha de verdade: uma folha de grama, um punhado de areia, uma nuvem, um raio de sol sobre o vidro, folhagem leve dançando na brisa, um gesto infantil, um sorriso que se ilumina. 

Acredito verdadeiramente que a beleza é o olhar de Deus, que nos mostra o seu sonho não realizado, o verdadeiro desejo profundo e sempre renovado da terra e daqueles que a habitam. 

Já podemos encontrá-lo na beleza, na maravilha, na profundidade do significado das menores coisas quando realmente as olhamos: uma folha de grama, um punhado de areia, uma nuvem, um raio de sol na janela, uma folha luz dançando na brisa, gesto de criança, sorriso que ilumina. 

Acredito verdadeiramente que a beleza é o olhar de Deus, que nos mostra o seu sonho não realizado, o verdadeiro desejo profundo e sempre renovado da terra e daqueles que a habitam. já podemos encontrá-lo na beleza, na maravilha, na profundidade do significado das menores coisas quando realmente as olhamos: uma folha de grama, um punhado de areia, uma nuvem, um raio de sol na janela, uma folha luz dançando na brisa, gesto de criança, sorriso que ilumina.

A visão que nos leva ao infinito

Hoje tudo nos encoraja a ver apenas a superfície das coisas. Estamos “fechados”, trancados fora de nós mesmos. Solicitações múltiplas e permanentes, visuais e sonoras, nos contêm fora de nós mesmos, privando-nos do tempo, do espaço e do desejo de qualquer interioridade, de qualquer recolhimento em nós mesmos. 

E por falta de perspectiva, de impulso interior, nosso olhar é direcionado, orientado, seletivo e limitado pelo que nos cerca e nos condiciona.

No extremo, quando tudo é simplificado e caricaturado, deixa de haver um olhar pessoal, e os outros também deixam de ser gente, de nada mais que peões num jogo mortal, brancos e brancos, negros, aliados e adversários. Aparências partidárias, racistas, putinianas.

Paradoxalmente, é o olhar interior que revela o vínculo profundo que nos une aos outros, à terra, a todos os seus habitantes. Ele vê além da aparência, do que a evidência e se torna um criador de vida. É lá no fundo de si mesmo que se junta o olhar de Deus, e que assim se pode ver Deus no olhar dos outros, ver cada um ao mesmo tempo único e diferente.

Este olhar permite também prestar atenção a quem ninguém olha, a quem os infortúnios, os fracassos da vida isolaram dos outros, a quem a sua diferença ou a sua fraqueza enfraquece ou marginaliza.